Talvez o
silêncio que nunca dantes tivéssemos ouvido, tornaria tão breve o nosso
sossego. Disse a ti o quão silencioso seriam os dias deitado sobre o seu peito,
ouvindo como único e primoroso ruído o saltitar do seu coração em puro tédio de
uma tarde qualquer.
Dissestes para ti como as tardes eram
tão calmas e serenas, tais quais as tardes perdidas de dias esquecidos em
passados distantes. Tu sorrias, tu sorrias, tu sorrias, era doce seu sorriso
ainda cheio de sono. Estávamos juntos. O lauto de nossas alegrias, a união
oculosa de nossos lábios, serenos e perenes, divagantes.
Talvez o
silêncio, hora quebrado por um carro, hora quebrado por vozes inquietas, fosse
algo tão divino quanto as abissais divindades do passado. A eternidade que se
mostra nestas tardes alaranjadas, cheias de mistério e magia. Estamos juntos,
colados & unidos em nossa atividade silenciosa de contemplação. Somos
tranquilos, calmos, serenos, únicos. Possuidores de um poder uno e calmo.
Uma
gritaria. Crianças na rua.
Não
tínhamos internet para nos atrapalhar.
Uma suave
música, algo tão passageiro como a primavera. O eflúvio de flores dantes nunca
notadas, prostrara no ambiente por uma fração mínima de segundo. Tu estavas com
olhos fechados, imaginado dantes sonhos nunca sonhados. Me diria depois que
sonhou com nossa possível filha(o).
Música
alta, quase uma onda gravitacional.
Logo o
silêncio voltou a reinar, afago (sim, mudo o verbo), afago os seus cabelos, tu
me diz quanto é bom. Estou quente, você está quente, é um dia quente, os
ventiladores estão quebrados. A televisão está quebrada, acabou a energia em
toda a cidade e os chatos estão dormindo. Você sorriu mais uma vez, te conto
algo engraçado sobre o que aconteceu ontem. Você sorrio
- Eu te
amo.
- Eu te
amo.
Você
sorriu.
Você
sorriu.
Lusco-fusco.
Existe uma
dificuldade verdadeira em enxergar a estrada nesta hora do dia. Da tarde. Da
noite. Longe, alguns perdidos tocam fogo em um conjunto de mato seco. A fina
fumaça e o fino cheiro de queimar sobre pelo bairro, alastrando-se pelo tédio
de uma tarde primaveiral, Estamos levemente suados, eternamente sozinhos. Ainda
não sonhamos esta noite, pois passaremos grande parte dela acordados.
Fome.
A letargia
da preguiça deixará a fome tomar um pouco mais antes de ficar mais séria. Ela
veste-se apenas por se vestir. O chão está frio, os pés estão descalços,
Desistimos, tornamos ao tédio. Não há energia na cidade, as estrelas brilharão
como nunca o fizeram. Por sorte, baixei David Bowie para toda a noite.
Anoitece e
o escuro toma conta. Algumas velas desnecessárias estão acessas apenas para não
acrescentar o medo da noite ao medo do escuro. O cheiro de uma praia distante
nos passa pelas narinas.
- Vamos à
praia próximo domingo? – pergunto, como a interrogação assim sinaliza.
- Vamos à
praia próximo domingo. – ela afirma, como o ponto assim sinaliza.
E o futuro
assim está traçado.
E o escuro
caí.
E
dormiremos de maneira una.