I
Agitam
bandeiras. São de todas as cores. São muito bonitas.
Agitam
suas ideias. São ideias de muitas cores. São ideias bonitas.
Mas
eu vejo além, eu vou além de mera bandeiras, eu vou além de meros sorrisos e
frases de protesto. Eu vou além, eu entro em sua consciência, eu entro no seu
âmago, eu sou o Sr. O único ser todo poderoso que tem poderes o bastante para
te fazer chorar.
Agitam
seus sentimentos. São sentimento de muitas cores. São sentimentos bonitos.
Agitam
seus medos. São medos de uma única cor. Uma cor indescritível.
Eu
sou o Sr. Mas tenho esta ansiedade, este medo, esta insegurança. Sei que posso
fazer algo do tamanho do mundo, porém o poderoso Júpiter pode nos engolir &
sorrir, sem versos e sem poesia. São paralelepípedos nas calçadas com nosso pés
machucados. São medos, temores, coisas afins. Estamos distantes, estamos em
outras galáxias tentando capturar o verdadeiro amor, perdido em milhões de
estrelas. O mundo que nos perdoe, porém a destruição é necessária.
Agitem
suas cores.
Agitem
seus partidos.
Existe
uma violência escondida nas esquinas. Coisas que não consegue se calcular.
Nenhum axioma matemático tem este poder sucinto de prever os acontecimentos.
Desapareceremos em violentos rios, nossos corpos serão o nutriente de uma terra
até tão castigada. Nossas crianças trarão o trigo & joio em suas machucadas
mãos. Nós, os pais, estaremos mortos e enterrados há tempos.
Agitam
as hipocrisias, só possuem cor-de-ódio, cor-de-raiva.
Mas
eu entendo estes agitadores. Vivemos em
um estranho mundo, onde tais coisas banais se tornaram hecatombes nucleares.
Tais banalidades, são apenas um quimera de tantas incertezas. A violência está
lá fora junto à nossas crianças.
Tu
não se lembras? Tu foste criança.
Estamos
duros, calejados, entorpecidos.
Estamos
parados, tristes.
Tristes.
II
Os
ódios se misturaram.
Existiam
muitas frentes nesta guerra sem sentido.
Os
ódios se misturaram.
Ninguém
mais escutava rádio nas calçadas.
Lembras
que um dia, quando eu era bem pequeno, tu mostrara que o céu neste ponto do
mundo possuía nuvens lidas e vermelhas. Era uma noite quente de verão e
estávamos na calçada, observávamos o céu do mesmo jeito que fazíamos em casa,
porém, lá era mais frio, as nuvens eram azuis-escuros, e sempre um avião
manchava a paisagem. Porém aqui, na sua terra natal, o céu possuía lindas
nuvens vermelhas.
Hoje
tu não estas mais aqui, as nuvens continuam vermelhas, porém ninguém mais as observa
(nem mesmo eu)
Algo
morreu em mim de uns tempo pra cá, mas eu não sou o foco.
Existe
coisa mais importante além daquela porta.
GUERRA
Na
rua garotos com seus dezessete, dezoito anos, estão bêbados, sangrando, mortos.
Agitam bandeiras, um dia foram coloridas, agora todas tingida de um vermelho.
Era o sangue dos vivos que logo estarão mortos.
Brigam
por causas dos quais nem sabem ao certo o que é. Digladiam-se com seus irmãos
cósmicos pela única coisa em comum, o ódio que um sente pelo outro. Não se
importam se matam, se morrem, se castram, se estupram. Estão morrendo aos
montes, toda uma geração está perdida em ideias dos séculos passados. Estamos
voltando para uma era gélida e fria, onde o temor a um “deus” – sim, com letra
minúscula, pois é o que ele é, minúsculo – tomou conta da nossa razão. Onde a
ciência é vista como uma heresia, onde mataremos, mataremos, mataremos. Guerra,
ódio, inveja. Saudaremos velhos açougueiros da humanidade, como aqueles
generais, risonhos em suas cadeiras de crânios.
Ninguém
sabe ao certo porque lutam.
Porém
tem alguém controlando tais marionetes.
Porém
tem uma criança abandonada chorando.
Porém
tem alguns pais procurando o corpo do seu filho entre as pilhas de mortos.
Por
qual motivo?
Por
qual motivo?
Se
existe alguma entidade superior, será que goza em saber que aqui em baixo as
leis são diferentes, que aqui em baixo as pessoas sofrem pela ignorância de
seus semelhantes? Se somos criaturas, somos apenas joguete de um festim diabólico
do qual não temos o controle? Somos apenas peças descartáveis de um tabuleiro
inverso, invertido, escuro.
Questiono.
Não
lutarei esta guerra.
Matem-me
por insubordinação, mas minha revolução é interna, não externa.
Posso
sufocar-me pela minha ansiedade & depressão, mas não me tornarei esta
criatura abissal, mesquinha e enfadonha que todos se tornaram.
Não
me jogarei aos braços diáfanos destes ignóbeis.
Não
me tornarei mais.
Porém,
se eu me tornar um, serei Uno.
III
Atravessai
o monstro interior.
Sois
binário, perante a este horror.
Atravessai
o monstro interior.
Não
haverá então outra maldita cor.
Jurai
que não sois ator.
Juro
que verei o sol se por.
Atravessai
o monstro interior.
Saudarei
a imagem do Avô.
Nuvens
vermelhas, seja aonde for.
O
mundo é meu mentor.
As
escolhas, um vetor.
Sinto
do inferno o calor
Não
dou crédito ao diabo, nem valor.
Também
não entregarei o verdadeiro amor.
Pois,
sabes qual o sabor.
Atravessai
o monstro interior.
ATRAVESSAI
O MONSTRO INTERIOR
Mostrai
do purgatório o ardor.
Pungente
no peito tal dor.
De
madrugada, o momento mais assustador.
Lá
fora, gritam com o maior clamor.
Atravessai
o monstro interior!
Atravessai o monstro interior!
Atravessai o monstro interior!
Atravessai o monstro interior!
Atravessai o monstro interior!
Ouço
os passos do comendador.
Condecorado
pelo ódio e favor.
Ouço
ele chegando no fim do corredor.
Suas
vestes de paixões, incolor.
Ninguém
sabe, tal monstro, grande contraventor.
Sua
felicidade vai decompor.
Da
guerra é o compositor.
Fará
soltar o monstro interior.
Conseguirá
capturar o delator.
Sem
julgamentos, será o executor.
Que
crucificara o escritor.
Que
em meio de versos, tentou expor.
O
monstro interior.
IV
Era
negro o que sobrou de toda a batalha.
Entre
mortos & perdidos, nenhuma ideologia sobrou.
Das
bandeiras, só sobraram as brancas, imagem de toda a dor e perdição. Ninguém
mais soube quem era o quê.
Ninguém
se conhecia, todos cegos pelos próprios ódios, agora viviam um puro ensaio.
Impotentes perante o próprio poder. Reis morreram, líderes caíram, governos
quebraram, jovens amadureceram. Eles serão os velhos daqui há cinquenta anos e
contaram a história de ódio que viveram.
Muitas
crianças perdidas pelas ossadas & cadáveres.
Essas
crianças seriam os próximos Ansiosos & depressivos, sem uma ideia do
futuro, sem uma ideia do que fazer.
Talvez
não tardassem muito a morrer.
Porém
os dias foram se sobrepujando.
Não
haveria mais controle, o que foi se foi. As nuvens continuariam vermelhas como
um dia foram apresentadas a mim. A noite ainda seria fria e o meio dia ainda
seria quente. Ainda haveria comida, apesar de escassa, ainda haveria água,
apesar de suja, ainda haveria sorrisos, apesar das marcas de lágrimas.
Meus
amigos estariam mortos.
Meus
filhos cultivariam a terra.
Meus
filhos cuidariam da dor do seu velho pai.
Cuidariam
de sua velha mãe depois que eu partisse.
Cuidariam
da terra, depois seus pais se forem.
Nos
enterraria em terras férteis de cinzas daqueles que morreram no passado.
Nossos
amigos & conhecidos.
As
pessoas que um dia conhecemos brevemente nos ônibus.
As
histórias que nunca virarão livros.
Colegas
do passado.
Familiares.
Cães.
Nós.
Só.
A
última pá de terra e a inscrição na lápide.
Muitos
não tiveram uma lápide (este é o mal da guerra).
Muitos
não tiveram enterros dignos (este é o mal da guerra)
Muitos
não viram o pôr do sol pela última vez (este é o mal da guerra)
Não
haverá rosas em suas camas.
Não
haverá uma última canção.
O
império de sujeira desabou.
Na
cabeça dos limpos.
A
última pá de sujeira.
E
tudo fluiu.
Não
haverá culpados num futuro distante. Apenas boas histórias, de um passado
glorioso. Ainda nos reuniremos em volta da fogueira para queimar velhas mágoas
de coisas que nem de fato aconteceram. Ainda nos tornaremos austeros, porém
talvez não nesta vida.
Pequenos
cavalos selvagens ainda correram por nosso pasto.
Num
futuro distante, todos estaremos felizes, mesmo diferentes, mesmo iguais. Não
haverá tantas guerras, e os mortos estarão confortado em seu estado. Nossos
filhos viverão em uma época muito boa e muito fértil. Terão chuva de meteoros
fazendo o céu brilha numa das noites mais inesquecíveis.
Nossa
pequena história do mundo não estará finalizada se não semearmos a terra com
nossos descendentes.
Nossa
trágica história do mundo não teria sido única sem o sangue de pessoas
inocentes.
Nossa
velha história do mundo não teria sido o que foi sem tantas curvas e vertentes.
Muito
se passou pelo que se disse nos últimos anos. As vezes até mais do que poderia
ter se dito. Vida & Morte, tanta coisa, tantos dias diferentes, escuros,
sem um motivo aparente para dar um sorriso.
Logo
as bandeiras voltarão a se agitar, todas de muitas cores, todas muito bonitas.
Logo
estaremos em uma rotina, em um dia a dia, em nossos computadores, em nossa
tecnologia.
Logo
estaremos tão vazios quanto antes, mais é cíclico.
Tudo
converge.
No
balançar de tais bandeiras, no balançar de tais sorrisos.
Seremos
velhos, no balançar das cadeiras.
Nossos
dias serão pequenos. Imperceptíveis.
Nosso
dias não farão diferença.
E
no fim do dia, no último dia, antes do fechar de olhos, veremos as cores mais
bonitas.