Mas
estou escutando Rolling Stones.
Dane-se
Mick Jagger. Estou caminhando no sol enquanto ele tem milhares de anos e
garotas. Tem milhares de dólares na conta e muitas histórias para contar. Eu
permaneço enriquecendo minhas mentiras, histórias que gostaria de ter vivido,
páginas pútridas de histórias distopes.
Ainda
morrerei de ansiedade.
Eu,
pobre diabo, como sempre, ando com sapatos e calças furadas. Hoje minha crise
de ansiedade estragou meu dia.
Claro
que prefiro um homem vivo a um deus grego morto. Claro que Hélios resolveu me
sacanear e jogar na minha cabeça o sol mais quente dos últimos anos. O asfalto
fervilhava, e o céu distorcia em um azul claro e maligno. Minha falta de ar que
me acompanha nos últimos anos meu deixou mais lento, mais cansado, mais
estático.
Carros
bonitos com seus dignos motoristas.
Pessoas
tomando refrigerante na calçada. Eu gostaria muito de comprar um salgado tímido,
perdido em alguma venda, mas tenho alguns centavos na carteira, sapatos e
calças furadas.
E
se pudesse misturar tudo em uma sopa espessa de desgraças, de coisas que não
deram certo. Ainda poderia assim, com alguns versos sem rima, sem gosto, sem
pudor. Claro que tudo não passa de ódio contido, sou o rei do ódio contido. O
eterno idiota que dirá os comentários mais sarcásticos e inúteis que vocês
conhecem.
Estou
falando sozinho de novo.
Estou
falando diante do espelho.
Estou
ignorando boas ações, como sempre.
Uma
angústia toma conta do meu peito as nove horas da manhã. Tenho prazos, tenho
números, tenho contas para bater, tenho uma meta para atingir, tenho
obrigações, tenho que alimentar o sonho como se fosse um fogo rebelde que teima
em queimar minha própria casa, tenho milhões de planetas para visitar, porém,
me falta oxigênio. Fico ansioso, perco minha mente e meu ar, tudo se torna mais
escuro, mais sombrio, mais sem sentido. Ainda irão chamar meu nome e dar o
triste aviso que fui o indicado pelos meus próprios erros.
Na
minha bolsa, livros.
Na
minha mente, ideias
Nos
meus sonhos, pesadelos.
Na
minha alimentação, veneno.
Nos
meus sapatos, furos.
Idem,
minhas calças.
Nem
os pobres diabos aguentam o sol escaldante. Nem os mais putos da vida aguentam
o sol da tarde sobre as cabeças, gritando como um louco da cidade.
A
velha coceira me ataca em público.
Gostaria
de ter vício dos quais nunca tive.
Uma
pequena dor de cabeça que nunca sai da minha fronte direita. Minha eterna
vontade que as pessoas que não gosto morram de maneira imbecil. Ah, Darwin, que
ideia idiota de evolução. Pena que ela está tão correta.
Que
ideia idiota de calendário.
Que
ideia idiota de horas.
Mas
o tempo está acabando, não sei se devo contar crescente ou decrescivamente. Não
sei se tudo não passa de uma bomba relógio. Da hora de se jogar do quarto andar
e ver os pássaros voarem de cima para baixo.
Mas
o tempo é cruel, junto ao sol, junto aos prazos, junto às dores, junto ao
cansaço, junto às noites onde não se sonha.
Tudo
é tão escuro como a mais triste noite. Não importa qual música o seu celular
escolha para tocar.
Nem
mil Chaplins o animam.
Nem
mil Chapolins te fazem rir.
Nem
mil Shakespeares te fazem sonhar.
Porém
uma única preocupação e tudo vem abaixo. Porém um ponto negativo, uma cara
fechada, uma pergunta mais incisiva e tudo desmorona.
Um
brinde a sua falsa autoestima.
Lástima.
Calças
e sapatos furados, como sempre.
Uma
calçada de paralelepípedos que machucam os pés. Esta é a vida.
A
vida.
Ansiedade,
sapatos e calças furadas, como sempre.
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