quinta-feira, 27 de outubro de 2016

DOS SANTOS


            Eleonor B. Roosevelt não era americana, muito menos rica. Nascera numa puta que o pariu qualquer de um interior bem imbecil. Tinha sido um milagre o Carinha do Cartório ter escrito seu nome de uma maneira correta. Tal ideia imbecil tinha sido de seu pai, Diplomata dos Santos, do qual perduraria uma geração de nomes bizarros. A mãe de Eleonor chamava-se vulgarmente de Maria, mas ela não fará nada de importante na história.
            O Carinha do Cartório teve dificuldade, a princípio, em escrever o nome de Eleonor B. Roosevelt. O mesmo perguntou como era para ser escrito e o respeitadíssimo Sr. Diplomata disse que não sabia, mas tinha que estar certo. Sentindo-se desconcertado, pois o Carinha do Cartório era perfeccionista e mantinha a sua coleção de uma única caneta sempre geometricamente alinhada no balcão e suas roupas combinando com seu estado de espírito, o pequeno homem do cartório, o “Carinha”, assim vulgarmente chamado por este escritor, tentou, fugindo aos seus princípios perfeccionistas, escrever o nome Eleonor B. Roosevelt.
            - O “B” é abreviação do que? – perguntou o Carinha do Cartório.
            - O que é abreviação? – indagou o respeitadíssimo Sr. Diplomata.
            - É quando você diminui uma palavra.
            - Mas eu não fiz nenhuma palavra. Eu fiz um nome, “B” é “B” e pronto.
            - Então o nome dela vai ter um “B.” no meio, sem nenhuma explicação.
            - Isso mesmo, é, como você disse, “abravado”.
            - Abreviado?  - corrigiu tacitamente o Carinha do Cartório.
            - Foi isso que eu quis dizer.
            O Carinha do Cartório pediu os documentos do Sr. Diplomata e da senhora sua esposa, que não terá importância nesta história, e a certidão de casamento. Logo espantou-se pois notou que o nome completo do Sr. Diplomata era “Diplomata dos Santos”, sendo assim, não possuindo nenhum Roosevelt no ultimo nome.
            -Sr. Diplomata - disse respeitosamente o Carinha do Cartório -  será preciso colocar “Dos Santos” como o último nome da sua filha.
            - Eu não quero –Sr. Diplomata acendeu um cigarro.
            - Não é se o senhor quer, é lei.
            - Me mostra esta lei.
            - Afê Maria Véi – Maria diz em um misto de raiva incongruente e impaciência predestinada - põe logo o nome na menina que eu tenho mais o que fazer!
            Eleonor B. Roosevelt seria a caçula durante pouquíssimo tempo, pois seus país já tinham encomendado a cegonha uma nova criança, aumentando a cria de oito para nove. Todos os outros filhos tinham nomes absurdos, e sempre era uma pequena disputa por o ultraje do nome “ Dos Santos” finalizando aquele show de horror. O respeitadíssimo Sr. Diplomata nunca fora muito religioso, e Dos Santos, o incomodava um bocado. Em suas próprias palavras, o mesmo dizia: “Não fui, nunca serei e nunca sererei um santo para ser Dos Santos.
            Mas a lei é lei e todos possuíam dos Santos. Curiosamente até sua mulher, do qual o mesmo exigiu que ela assim o fizesse, sendo Maria dos Santos, mas ela não tem importância na história.
            Depois de exatas três horas de discussão e pesquisa em um antigo código civil, deveras desatualizado, pois era antecessor a mudança de 2002, eles entraram em um consenso de, assim, chamar a garota de Eleonor B. Roosevelt dos Santos.
            - Ela será dos Santos, tipo o Silvio Santos – Brincou o Carinha do Cartório.
            - Então tira o “Dos Santos” porque eu não quero que a confundam com o Silvio Santos – Sr. Diplomata era uma aula viva de lógica, muito puxado do seu pai, Trioparadadura da Silva dos Santos, do qual era teimoso igual um jumento com diarreia, e assim como seu avô Pe-pedro Ba-batísta dos Santos, batizado pelo seu pai gago e por um auxiliar de cartório engraçadinho.
            - Marido, Chega desta putaria, que eu tenho mais o que fazê! – em uma onda de grito odioso e depois de um falar doce e calmo – Sr. do cartório, põe do jeito que o sinhô achar melhor, porque lá em casa eu chamo todo mundo de peste, então não faz diferença!
             E assim, Maria encerrou o assunto e nasce civilmente Eleonor B. Roosevelt dos Santos.

            Alguns meses depois, a história se repetiria com o novo filho do casal: Abreviação Silvio dos Santos. 

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