Trabalhamos
no mesmo lugar, uma empresa que não vale a pena citar o nome, mas é conhecida
pela mão de obra escrava. Também não vale a pena descrever o objeto de
trabalho, pois é uma perca de tempo tanto para mim, o escritor, quando para o
leitor que está aqui de bom grado lendo e comendo um delicioso sanduíche de
peito de peru.
Eu ainda não jantei.
O que nos divide são dois
andares. Tenho um pouco de medo prático de elevadores. Andar em uma caixa de
metal para cima e para baixo dependendo apenas do bom grado de Deus para querer
cometer um assassinato. Por mais que eu confie nos amigos cientistas, não gosto
de dar sopa para o azar. Também é prático subir pelas escadas e tomar isto como
um exercício forçado para eliminar os rolos de banha que minha barriga suporta.
Comer é o melhor prazer social
do mundo.
Vamos chama-lo graciosamente de Neurótico
Hipermetrófico.
Nossas tentativas frustradas de
criar uma nova filosofia ou chegar ao cerne de um novo pensamento mundial foram
inúmeras. Sempre nos reunimos tão brevemente e ao passo das pausas dos nossos
fatídicos empregos, tentamos buscar um novo conhecimento filosófico,
científico, psicológico ou então tentar desvendar se há moralidade no Batman deixar
o Coringa vivo ou não.
Também discutimos se o roteiro
do filme dos Vingadores é realmente bom.
Não o bastante, tentamos chegar
a algum lugar com nossas teorias. Estávamos dissecando a lógica platônica
através dos escritos filosóficos utilizada na República de Platão, tentando
buscar e analisar decerto o lugar dos artistas e dos filósofos na nova
república e se isto seria aplicado a esta nova era. Tentamos analisar através
de poucos escritos e comparativos com as vivências atuais e as bases utilitárias
para uma vida moderna através da velha filosofia grega.
Claro que fomos interrompidos por
um dos nossos amigos em comum do qual chegava perguntando se assistimos ao jogo
do Corinthians.
Denominamos estes tipos de
interrupções de “paradoxos”.
Um comparativo a estas interrupções
seria Freud e Breuer nas portas de difundirem o pensamento da psicanalise,
serem interrompidos por suas digníssimas esposas sobre qual vestido seria mais
adequado.
Ou então
antes de Einstein conseguir chegar á alguma conclusão na teoria da
relatividade, alguém interrompe-lo com algum trabalho inútil como arrumar a
escrivaninha.
Pior ainda,
no clímax das conversas de Newton e Halley, o do cometa, próximo da difusão da
física mecânica para a modernidade, alguém chegar e atrapalhar a conversa
tentando convencer que a Terra é chata e parece um pastel.
Conversamos
sobre tais paradoxos tentando chegar a alguma conclusão de como conversas
interessantes são atrapalhadas por assuntos frívolos, quase como um ímã que atraí o tipo de pessoas
vazias. Meu amigo, Neurótico Hipermetrófico sabe distinguir muito bem quais
pessoas possuem algum tipo de conteúdo a ser estudado e quais pessoas são tão
vazias quanto uma modelo da Vogue. Dissecamos este tipo de personalidade quase como
uma rã na aula de biologia. Notamos que tais pessoas tem medo de tentar se aprofundar
em algo, podem ser até oceanos em conhecimento, mas não passam de dois centímetros
de profundidade. Estávamos quase chegando em uma solução prática para este tipo
de personalidade quando nosso amigo em
comum, com um sorriso no rosto, nos pergunta se tínhamos assistido o jogo do Corinthians.
Meu amigo
Neurótico Hipermetrófico limpava seus óculos quando cheguei até seu posto de
trabalho às onze da manhã. Era um sábado desnecessário, daqueles que é digerido
pelo tempo de uma maneira ácida. Em roda, umas pessoas conversavam sobre narcóticos. Quando colocamos nossas
opiniões no assunto, buscando um conceito lógico dentre tantas coisas, jogando base
da psicologia tradicional e alguns testes realizados por psicólogos respeitáveis
desvendamos coisas que um dia iremos
traduzir e publicar, mas este não é o momento.
Ali havia
um ambiente fértil de puras ideias, coisa bem rara de se ver. Quando não temos
este tipo de interrupção. Podíamos chegar fácil a uma conclusão cientifica como
a um roteiro de cinema. Poderíamos criticar os grandes cineastas e analisar sua
obra como um todo. Analisar peças literárias como também traçar as linhas de um
novo modelo educacional.
Claro que
também pensamos em alguns crimes, igual aos amigos do filme “Festim Diabólico” mas isso é tema para outro texto. Entra mil milaborâncias
acabamos rindo e imaginamos o qual imorais pode ser o ser humano. Pensamos na
moralidade como um todo, um meio de chegar a mais profunda carne da pele humana
e trazer a tona toda sua imaginação fértil de milhares de pensamentos e emoções
que o ser humano é capaz de fazer. Quase
como um solo a ser adubado, sentimos que estávamos próximos de resolver o
problema dado ao número 42 antes mesmo do fim do nosso planeta. Tudo dependia
de mais alguns minutos de conversa, porém, novamente, fomos interrompidos pelo paradoxo:
- Ei máh, assitiram ao jogo do
Corinthias!?
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