domingo, 21 de agosto de 2016

O PARADOXO

           
            Temos por dia uns trinta minutos para conversar.     
            Trabalhamos no mesmo lugar, uma empresa que não vale a pena citar o nome, mas é conhecida pela mão de obra escrava. Também não vale a pena descrever o objeto de trabalho, pois é uma perca de tempo tanto para mim, o escritor, quando para o leitor que está aqui de bom grado lendo e comendo um delicioso sanduíche de peito de peru.
Eu ainda não jantei.
O que nos divide são dois andares. Tenho um pouco de medo prático de elevadores. Andar em uma caixa de metal para cima e para baixo dependendo apenas do bom grado de Deus para querer cometer um assassinato. Por mais que eu confie nos amigos cientistas, não gosto de dar sopa para o azar. Também é prático subir pelas escadas e tomar isto como um exercício forçado para eliminar os rolos de banha que minha barriga suporta.
Comer é o melhor prazer social do mundo.
 Vamos chama-lo graciosamente de Neurótico Hipermetrófico.
Nossas tentativas frustradas de criar uma nova filosofia ou chegar ao cerne de um novo pensamento mundial foram inúmeras. Sempre nos reunimos tão brevemente e ao passo das pausas dos nossos fatídicos empregos, tentamos buscar um novo conhecimento filosófico, científico, psicológico ou então tentar desvendar se há moralidade no Batman deixar o Coringa vivo ou não.
Também discutimos se o roteiro do filme dos Vingadores é realmente bom. 
Não o bastante, tentamos chegar a algum lugar com nossas teorias. Estávamos dissecando a lógica platônica através dos escritos filosóficos utilizada na República de Platão, tentando buscar e analisar decerto o lugar dos artistas e dos filósofos na nova república e se isto seria aplicado a esta nova era. Tentamos analisar através de poucos escritos e comparativos com as vivências atuais e as bases utilitárias para uma vida moderna através da velha filosofia grega.
Claro que fomos interrompidos por um dos nossos amigos em comum do qual chegava perguntando se assistimos ao jogo do Corinthians.
Denominamos estes tipos de interrupções de “paradoxos”.
            Um comparativo a estas interrupções seria Freud e Breuer nas portas de difundirem o pensamento da psicanalise, serem interrompidos por suas digníssimas esposas sobre qual vestido seria mais adequado.
            Ou então antes de Einstein conseguir chegar á alguma conclusão na teoria da relatividade, alguém interrompe-lo com algum trabalho inútil como arrumar a escrivaninha.
            Pior ainda, no clímax das conversas de Newton e Halley, o do cometa, próximo da difusão da física mecânica para a modernidade, alguém chegar e atrapalhar a conversa tentando convencer que a Terra é chata e parece um pastel.
            Conversamos sobre tais paradoxos tentando chegar a alguma conclusão de como conversas interessantes são atrapalhadas por assuntos frívolos,  quase como um ímã que atraí o tipo de pessoas vazias. Meu amigo, Neurótico Hipermetrófico sabe distinguir muito bem quais pessoas possuem algum tipo de conteúdo a ser estudado e quais pessoas são tão vazias quanto uma modelo da Vogue. Dissecamos este tipo de personalidade quase como uma rã na aula de biologia. Notamos que tais pessoas tem medo de tentar se aprofundar em algo, podem ser até oceanos em conhecimento, mas não passam de dois centímetros de profundidade. Estávamos quase chegando em uma solução prática para este tipo de  personalidade quando nosso amigo em comum, com um sorriso no rosto, nos pergunta se tínhamos assistido o jogo do Corinthians.
            Meu amigo Neurótico Hipermetrófico limpava seus óculos quando cheguei até seu posto de trabalho às onze da manhã. Era um sábado desnecessário, daqueles que é digerido pelo tempo de uma maneira ácida. Em roda, umas pessoas conversavam  sobre narcóticos. Quando colocamos nossas opiniões no assunto, buscando um conceito lógico dentre tantas coisas, jogando base da psicologia tradicional e alguns testes realizados por psicólogos respeitáveis  desvendamos coisas que um dia iremos traduzir e publicar, mas este não é o momento.
            Ali havia um ambiente fértil de puras ideias, coisa bem rara de se ver. Quando não temos este tipo de interrupção. Podíamos chegar fácil a uma conclusão cientifica como a um roteiro de cinema. Poderíamos criticar os grandes cineastas e analisar sua obra como um todo. Analisar peças literárias como também traçar as linhas de um novo modelo educacional.
            Claro que também pensamos em alguns crimes, igual aos amigos do filme “Festim Diabólico”  mas isso é tema para outro texto. Entra mil milaborâncias acabamos rindo e imaginamos o qual imorais pode ser o ser humano. Pensamos na moralidade como um todo, um meio de chegar a mais profunda carne da pele humana e trazer a tona toda sua imaginação fértil de milhares de pensamentos e emoções que o ser  humano é capaz de fazer. Quase como um solo a ser adubado, sentimos que estávamos próximos de resolver o problema dado ao número 42 antes mesmo do fim do nosso planeta. Tudo dependia de mais alguns minutos de conversa, porém, novamente, fomos interrompidos pelo paradoxo:

            - Ei máh, assitiram ao jogo do Corinthias!?

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